Sempre que alguém fala vocês, ou em alguma fala minha salta um eles, fico me perguntando do que esta por traz dessa separação. Nasci num estado polarizado, então uso muito a expressão eles me direcionando aos colorados (torcedores do Internacional), mesmo ocorre quando pessoalmente estou falando com algum amigo da torcida rival ao utilizar o “vocês”.
Percebo que sempre que existe separação, cargos, níveis, grupos, partidos, times e qualquer conjunto que esteja em separado de outro, surge e emerge o nós e eles. As vezes num processo de arrogância pura, se estou com uma visão mais ampliada da situação me refiro aos outros, como eles, que ainda não acessaram esse conhecimento ou habilidade.
É um processo inconsciente cotidiano de separação. Nos referimos assim aos estrangeiros, e nos comunicando separadamente para todos os lados, sem nos assumirmos como “nós humanos”, raramente nos incluímos nesse todo da humanidade.
Escuto com frequência o uso da palavra “a gente”, acho que é típico aqui do sul, mas as vezes me recorre a pergunta “a gente quem?”. Eu mesmo uso este termo com frequência impessoalizando minha fala. Fugindo de quem realmente esta falando, e me excluindo ou incluindo outros sem nomea-los.
Quando falo em primeira pessoa, estou transparecendo o que penso, como penso, independente de julgamento de certo e errado. Quando assumo o nós, assumo o risco de estar inferindo por muitos, sem dar o limite de quem são esses nós.
Por exemplo nós que concluímos a universidade, pode ser um norte, nós engenheiros, nós da comunidade X ou Y. Isso permite criar um limite a quem se extende esse nós.
Experimento algumas vezes o nós na escrita, eu e você que está me lendo somos este nós e mais ninguém a principio. Nesse momento não sei quem é você, como posso então assumir esse nós como verdade, como percepção fixa. Normalmente quando faço, utilizo o termo a maioria (sem medir), ou muitos de nós. O que pode deixar aberto, mas podia também ser substituído por “eu e talvez você”.
Volto a pergunta de separação, e me travo, percebo o quanto ao falar e escrever estamos separando o tempo todo, afastando, diluindo forças em blocos, times, e outros. É um processo inconsciente de proteção, de segurança e controle.
Será mesmo que precisamos de tantas separações ou nos é mais simples assumirmos a parte que me toca do eu confiando que somos todos humanos como nós?
Qual a importância de manifestar-se na primeira pessoa?
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