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  • Foto do escritorRafael Urquhart

Para que a desconfiança?

Acredito que em primeiro grau de importância para sobreviver ou nos prover segurança. E a partir dai para ter paz. O que é incrível é que para ter paz os mecanismos baseados em seu oposto, a confiança se mostram extremamente mais simples e humanos.

Somos reflexo de muitas gerações e experiências de milhares de anos. Não sou um bom historiador, mas pelo pouco que conheço, muito da história registrada é marcada por batalhas, disputas de poder, massacres, insegurança e luta por sobrevivência. Temos um histórico de abuso, dominação, escravidão, supremacia, centralizações hierarquizadas de todas as espécies, que independente do filtro de bem ou mal perduraram por anos e proveram sobrevivência para alguns.

Não tem como falar de desconfiança sem passar pelo medo. Medo de quê?

Não precisa dar muito tempo para que começamos a pensar em todos os medos e insegurança que nos afetam nesse momento pandêmico que estamos passando. O medo à sobrevivência nunca ficou tão evidente neste século. A escassez nunca esteve tão presente e fácil de ser percebida como agora. Mesmo antes da pandemia, nossa primeira reação é a de desconfiança, quando seria mais simples confiarmos primeiro.

Ontem palestrei para um grupo de pessoas, e quando questionei do que elas tinham medo, a nuvem de palavras pulou na minha tela com a simplicidade dos medos mais profundos, da morte e da insuficiência. Este estado de medo nos põe em alerta, vigilantes, desconfiados. É parte do sistema que vivemos nos manter vigilantes e medrosos, a desconfiança é naturalmente combustível para uma infinidade de mecanismos, mercados e serviços que a amenizam ou eliminam, com seus seguros, burocracias e afins.

Numa sociedade baseada em desconfiança, mais de 60% do que gastamos esta associado a prover segurança, confiança, garantias e redução de medo. A intermediação de tudo que fazemos esta ai para cuidar disso, são inúmeras profissões, serviços, ferramentas travestidas de segurança, mas profundamente conectadas a tratar da desconfiança natural da nossa humanidade. Para que? Qual a razão?

Acredito não ser um movimento racional, e sim um reflexo inconsciente de tudo que nossos antepassados viveram. Meu filho Benjamin esta com 1 ano e meio, e é incrível como ele confia e acredita em tudo, está aos poucos experimentando ambientes seguros e inseguros, mas parte da premissa de não ter medo. Eu me puno severamente em diversos momentos pois estou transmitindo a ele o meu medo de que se machuque, e aos poucos ele vai construindo os seus limites do que pode e não pode. Não lembro mas passei pela mesma fase de experimentação dos meus limites primários, não da pra negar, existe uma parcela de medo necessária para que sobrevivamos e tenhamos noção dos nossos limites.

Então ok, uma parcela de desconfiança é necessária? Sim, confesso que sim, ela existe, não da pra negar sua existência. E se existe é por que em algum nível ela é fundamental. Tudo que existe em dualidade deve ser dosado e suficientemente dotado de bom senso na sua utilização. O que ocorre é que a desconfiança tomou conta, e o estado de confiança se perdeu. A confiança genuína sumiu. Sinto a necessidade de reestabelecer este equilíbrio, mesmo que demore um longo tempo.

Talvez, experimentando um medo extremo generalizado, passamos a olhar mais pra perto, para nossa volta, revertendo a desconfiança em colaboração a partir da confiança. Reduzir as regras e propor acordos, sair da discussão e da busca de culpados para um movimento de ação e proposição. Afinal desconfiados paralisamos e ficamos esperando que algo aconteça, quando confiamos fazemos.

Qual o valor da sobrevivência?

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