Qual foi sua última grande surpresa?
- Rafael Urquhart
- 31 de mar.
- 3 min de leitura
Estou navegando em um ciclo de tempo, buscando qual foi essa grande surpresa.
Confesso que num primeiro momento não me vem algo "grandioso" a cabeça.
Olhar pra traz, para buscar algo que me surpreendeu, está sendo neste instante um exercicio nada simples.
A primeira pergunta que me veio é se estou permitindo me surpreender?
Ou se estou na posição de controle extremo em que nada me surpreende.
Minha surpresa instantanea ao iniciar este texto foi perceber que minha última pergunta ja datava de 75 dias. É um longo tempo sem refletir para quem já teve o hábito de refletir todos os dias pela escrita.
Escrevo e me dou conta da conotação negativa dessa surpresa, quando talvez grande parte das pessoas, ou o "normal" seria buscar uma surpresa positiva. Como um reconhecimento recente de alguém que conheço pouco, por abrir meu coração e falar de um lugar de importância. O fiz de forma tão natural, que fui surpreendido pelo reconhecimento de quem recebeu essa mensagem.
Por mais que eu continue a escrita, estou surpreendido em tom maior, por não ter encontrado uma grande surpresa recente, não que elas não tenham acontecido, mas talvez por eu não estar suficientemente presente e aberto a tratá-las como surpresas.
Minha filha me visitou carregando uma prova de matematica onde tirou um 8,5. Confesso que fiquei feliz, contente por ela e por ver no rosto dela o empenho e a alegria do seu próprio esforço de perceber que pode, para alguém que um tempo atras se dizia "não nasci para a matematica". (Grato ao profe Salva pelo apoio).
Meu filho benjamin me cobrou que eu não estava sendo muito fofoda-se (meu palhaço) com ele, que eu vinha estando muito brabo e cara fechada. Uma boa surpresa para correção de rumo.
Talvez as grandes surpresas tenham vindo pelo olhar dos meus filhos, talvez por mensagens ou contatos que eu ainda não tenha percebido. Talvez ainda por contatos ou reencontros inesperados em momentos oportunos.
A última grande surpresa.
Parar pra se perceber surpreendido parece um exercício simples, mas carrega em sim a boa ou a má surpresa de estar atento.
Quantas coisas boas tem me acontecido, muito mais que as más.
Em dezembro cheguei a pensar que hora de partida do meu pai estava próxima e graças a medicina, vamos ter bastante tempo pra construir histórias.
Em janeiro o mundo parecia que ia desabar, e agora alguns meses depois tudo se conecta de uma forma muito importante e para o bem.
Talvez por que muito dessas coisas tenham seu plantio, e a colheita já seja esperada, percam o tom de surpresa. Mas ainda assim, dar certo também é uma surpresa num contexto onde muita coisa colabora para que de errado.
Basta olhar para o lado, mais próximo, e posso ver alguém sem emprego, sem uma moradia digna, sem segurança, sem saúde ou ainda sem esperança.
A simples esperança de ser surpreendido já muda a perspectiva.
Ser salvo talvez seja o pensamento mais presente.
Quando salvamos a nós mesmos, talvez a expectativa da surpresa se reduza, e por que não a própria percepção de ser surpreendido se extinga.
Adoraria compartilhar a grande surpresa. Mas talvez eu não tenha essa dimensão de comparação entre muitas pequenas surpresas e a grande surpresa. Talvez meu olhar negativo para mim mesmo de não me deixar surpreender seja invertido para o positivo por eu ter estado mais presente as pequenas surpresas do dia a dia, sem deixar que se acumulem ou se esvaziem para que surja a "grande surpresa".
Muda a perspectiva, muda o ponto de relação e talvez o grande e o pequeno se alterem.
Recebi um chamado de reencontro comigo, com o outro, para deixar me surpreender.
Ainda não sei quem vem, nem quantos vem, mas acho que pode ser a próxima grande surpresa.
Entre indas e vindas, refletindo sobre surpreenderme, ou deixar-me surpreender fico com a pergunta.
Tem permitido que a surpresa te pegue de jeito?
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