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Foto do escritorRafael Urquhart

Como cuidar da energia para sustentar um conflito pelo tempo que ele necessita?

Cuidar é uma palavra mágica que se encaixa em vários contextos.

Cuidar de mim, cuidar da energia entre eu e o outro e quando possível cuidar do outro.

Não pensei que fosse tão difícil sustentar energia em meio a conflitos. Alguns conflitos demandam mais energia do que posso dar conta sozinho, são conflitos com tantos contextos e histórias que se cruzam que precisam de mais energia de cuidado, na minha direção e na do outro.

Por alguns instantes a arrogância de poder achar que dou conta sozinho, reduz a minha energia e por conseguinte a energia necessária de sustentação.

Estou vivendo nos últimos 8 dias o peso energético de trazer um conflito a tona, que não me preparei para sustentar, que não imaginei que pudesse tomar a proporção que tomou, que não pensei que causaria tanto sentimento de desrespeito (não tendo intensionado isso em momento algum). Infelizmente não sabia, segui minha intuição, segui meu corpo que se desconfortava com uma sequência de fatos associados a comportamentos, que desencadeavam em mim reações minhas que não me estavam fazendo bem, nem a mim nem a outros.

Percebo constantemente que conflitos se tornaram embates, combates ou lutas muito facilmente, num instalar de dedos, mesmo que esta não seja a intenção. Em tempos de revolução e rebeldia, o significado de conflitar se perdeu em meio aos jogos de ganha x perde. É como que não fosse possível perceber que sempre existe um caminho do meio inexplorado que integra lados divergentes sobre um mesmo assunto ou acontecimento. Como essa possibilidade é invisível gastamos muita energia numa tentativa de convencimento e dominação (da qual me incluo), ou ainda uma energia ainda maior de defesa, reação, proteção contra algo que no fundo não tenta nos agredir.

Interessante que por mais que eu escreva, fale, reflita, ainda reside em mim um inconsciente combativo que por vezes emerge em meio a natureza de um conflito. É duro perceber que por mais que eu evolua, aprenda, pratique, ainda assim na minha memória residem traços combativos que podem ser acionados por alguns gatilhos. Confesso que muitos desses gatilhos já consigo perceber e por vezes cuidar, já outros são mais instintivos, rápidos ao ponto de não possibilitar controle fugindo dos meus domínios.

O sentimento de incompreensão é um deles, e brota em mim fortemente quando falo algo com uma intenção, mas a mensagem chega de outra forma ao receptor, por vezes por erro meu de não ter trabalhado mais tempo na mensagem, por vezes do contexto não seguro para que essa mensagem seja transmitida e em outros contextos por um mar de possibilidades existentes da mensagem tirada de contexto no receber do outro.

Sou consciente destes gatilhos, estou consciente da necessidade de cuidado das minhas mensagens e através dessa percepção escolho aceitar aquilo que acontece em prol do meu aprendizado, deixando ir aquilo que não me cuida e pedindo ajuda quando entendo que preciso de ajuda.

Tentei sozinho equacionar o conflito, e não consegui. Pedi ajuda para intermediar o diálogo, ajuda para mediar a entrega de um “feedback”, usei tão mal essa palavra, que me dei conta que quando a usamos, ela direciona o foco no outro, e assim o outro deixa de ouvir as partes do feedback que fazem parte do emissor. É como se ao utilizar a palavra feedback eu estivesse dando um conselho. E no fundo, minha intenção não era essa, era de poder olhar para situações repetidas com padrões repetidos, que estavam me causando dor, e olhar mais profundamente para que formas agirmos com as mesmas intenções mas de formas diferentes.

A forma informa. E confesso a minha forma não foi boa e informou muito mais coisas negativas do que as positivas que eu tinha a entregar. A parte positiva da mensagem se perdeu, e o que era conflito foi interpretado como uma agressão, extrapolando qualquer contexto da mensagem inicial.

Não gosto de fugir do problema, mesmo que ele me tome uma energia substancial.

Não consigo acreditar que fugir ou deixar pra lá seja a solução. Escolher não gastar energia, não é a mesma coisa que escolher deixar o conflito pra lá.

Não foi a primeira vez, muito provavelmente não vai ser a última.

A opção de nos afastarmos sempre vai existir, mas ao nos afastarmos do outro também nos afastamos de nós mesmos. Calamos uma vós interna que queria cuidar.

Confesso que a forma mais preciosa que experimentei foi o tempo. Mas também experimentei outras como escutas, redes de apoio e novos contextos para experimentarmos outras situações.

Ainda não sei se esse conflito vai perdurar mais dias, meses ou anos. Desejo que não. Ele tem o tempo dele, sustentado pelo tempo de reflexão de cada um dos envolvidos neste conflito.

Todo conflito tem seu tempo, as vezes queremos resolve-lo no tempo presente, no agora, mas ele demanda de mais clareza, de mais escuta, de mais cuidado e principalmente de mais tempo, para que seja cuidado.

Sobre a energia, é fato que por tentarmos dar conta sozinho, e nos faltar energia o caminho mais natural e frequente é a desistência, assumindo nossa incapacidade individual. O que me desperta, é que existem outras formas de energia, outros meios e principalmente redes de apoio que podem sustentar para que emerja o que precisa emergir, para que seja curado o que precisa ser curado, e que um novo ponto de relação se estabeleça, trazendo mais confiança para o coletivo e principalmente mais segurança para o contexto que esse conflito emergiu.

Como não dar feedbacks e falar do coração?

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