Acredito que o tempo esta distribuído em cada um. Em cada percepção.
É como se além do nosso tempo, da nossa jornada diária, existisse outro tempo, multiplicada inúmeras vezes pelo número de pessoas que te cerca. É um olhar de que primeiramente se vivemos em uma família, no meu caso 3 pessoas na mesma casa, já temos ai 3 tempos distintos, 3 jornadas de 24 horas diferentes uma das outras.
Então primeiro temos o TEMPO INDIVIDUAL de cada um.
Agora em fases do dia estamos juntos, interagindo, seja numa refeição, numa conversa, assistindo um filme, brincando, se saio do ciclo familiar e vou para o trabalho, podemos estar em uma reunião, numa ligação telefônica ou envolvidos em etapas do mesmo projeto.
Nesse encontro, ocorre o segundo tempo, o tempo coletivo, o tempo em comum, o tempo de contato. Que não é único, pois podemos percebe-lo de N formas distintas a partir do diálogo com o outro e mesmo estando em somente duas pessoas, se interagirmos o suficiente podemos criar inúmeras narrativas deste tempo, por exemplo. Pense que podemos gravar uma conversa de 10 minutos. Além do tempo que estivemos juntos, podemos gerar um conteúdo em video na integra, ou partes condensadas das melhores palavras, ou tirar de contexto e colocar em explicações de outra forma. Podemos ainda transcrever a conversa torna-la acessível a outros, criando assim inúmeras camadas distintas de percepção deste tempo.
Volto a pergunta, e reflito sobre o tempo egoísta e o tempo cuidadoso, é como se eu cuidar apenas do meu tempo não bastasse, só a minha rotina é limitada, tarefas sozinhas limitam a ação do meu tempo. Imagine que eu me isolasse em um lugar distante, só livros, filmes e a natureza. Nesse cenário eu teria a percepção única de 24 horas do dia, sem conversa sem interação, apenas uma percepção sem diálogo. Claro que poderia escrever, filmar e gerar conteúdo para replicar o tempo, mas ainda assim seria somente o meu TEMPO INDIVIDUAL.
Agora pense no mesmo cenário, um mesmo isolamento com outras 4 pessoas, percebendo de forma distintas as situações, conversando, aprendendo, trocando uns com os outros sobre estas perspectivas. Me parece sútil, mas a quantidade e a qualidade de tempo se propagam, se expandem em infinitas possibilidades.
Perceber o tempo que nos cerca, é olhar para a qualidade, verdade, intenção e conexão das nossas interações. É interagir com respeito ao tempo do outro mas ao mesmo tempo perceptível aos tempos coletivos. É saber que o meu tempo impacta no outro assim como o tempo do outro impacta em mim, e na união destes tempos existe um paralelo só possível e percebido através da conversa.
Aceitar o tempo do outro é difícil, no mesmo nível que ter seu tempo aceito pelo outro, não é sobre atropelar, ou deixar esperando, é sobre saber que no encontro existe um outro tempo em comum, não tanto lá e não tanto cá, que só frutifica e se expande através de uma boa e intencionada conversa.
Como expandir a arte de celebrar?
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