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  • Foto do escritorRafael Urquhart

O que carregamos dos nossos pais?

Leio a pergunta e me apego a palavra carregar, que me parece muito associada com carga.

Qual carga, se é que ela existe, estamos carregando? Olho por esse viés talvez negativo, para perceber todas as possibilidades que existem nessa pergunta sobre o que carrego ou carregamos. Me parece que em determinados momentos da minha vida fiquei com essa impressão de carga, na adolescência talvez o sentimento fosse maior, como se tivesse algum peso que eu tivesse que sustentar, seja por dar satisfação ou atender expectativas.

Chegada a vida adulta, vi que essas expectativas eram imaginações minhas do que eu achava que carregava, e a carga automaticamente ficou mais baixa. Trago o olhar para o “tenho que”, “é o certo a fazer”, “é assim”, termos comumente utilizados quando a verdade que temos é somente a dos nossos pais. Talvez nas gerações passadas, com menos informação, e menos acesso que hoje, a verdade dos pais tinha um peso maior, afinal esse era o canal de conexão dos filhos com o mundo. Por mais que a escola e os livros mostrassem outros caminhos, o mais rápido ainda era através dos pais.

Sinto que talvez essa carga de verdade tenha diminuído com os tempos, afinal uma criança com 6 anos acessa o google e encontra uma infinidade de verdades possíveis, que se confundem, mesmo que a dos pais ainda seja a que prevaleça pela confiança e proximidade.

Passado esse olhar de verdades. Volto o olhar para as expectativas, elas sempre existem, carreguei por um tempo sem me dar conta, E SEM NECESSIDADE, uma expectativa de sucesso que eu achava que meus pais tinham, na verdade eles só queriam que eu estivesse bem, mas pelo comum, criei objetivos as vezes maiores do que eu podia carregar, simplesmente por não ter maturidade por enxergar outras perspectivas.

Passada essa limpa de expectativas, quando me torno pai, passo a circular em dois canais, no de estar atento a minha ancestralidade, e também deixar lembranças positivas para os meus filhos, seja através de conversas, de observações, de perspectivas contadas a partir da minha história.

Firmo bem a palavra história, por que seria valioso se nós, me ponho agora no papel de filho, pudéssemos portar ou ter acessível a história dos nossos pais. Certamente que não em detalhes, mas como seria interessante poder termos uma pastinha catalogada sobre as histórias já vividas por nossos pais, de modo que nos sirvam de lições aprendidas, ou perspectivas que explicam uma série de comportamentos e respostas.

Não quero me perder nessa carga, semana passada questionei meu pai sobre algumas histórias, e para minha surpresa algumas partes ele não queria mais lembrar, preferia deixar no esquecimento. Achei incrível esse poder seletivo de memórias a se passar pra frente, na hora fiquei um pouco receoso, mas depois refletindo percebi que ele estava me ensinando algo, estava escolhendo quais histórias eu iria carregar pra frente, afinal tenho uma porção delas desde que vim ao mundo, mas as anteriores a mim conheço poucas.

Fazendo essa reflexão e já tendo estado em contato com algumas experiencias a respeito de constelações familiares, me deparei que talvez muitas histórias e aprendizados estejam no meu corpo, no meu inconsciente, esperando o momento certo para serem manifestadas e compreendidas. Talvez outras nunca sejam despertadas, ficando adormecidas no esquecimento, devido a contexto ou época. Ainda assim me parece que o melhor seria substituir a palavra carregar, por conduzir ou portar transforma a pergunta numa exploração mais leve e positiva como exemplo:

O que portamos de positivo através dos nossos pais?

A perspectiva se soma, um pouco transformada, baseada em todos os valores adquiridos, as histórias que somam repertórios para argumentar algo, as risadas, as piadas, os contos que servem de suporte para passarmos valores a frente para os nossos filhos.

Ao final, acredito que além das células, DNA, repertório, valores, ideais ou histórias, carregamos algo vivo em energia que ainda não podemos explicar, mas esta ali, de apoio, sistemicamente no nosso entorno, portando um infinito de combinações no nosso inconsciente.

Para que a persistência?

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