Prisão e fortaleza, duas palavras ligadas ao medieval, defesa e punição.
Parece que falar do que não me faz bem envolve palavras mais duras, mais fortes, olho pra pergunta e começo a respirar e significar.
A minha maior força talvez revele a minha maior prisão.
Me considero alguém aberto, mas como todos, não tão aberto. Esse não tão existe para compor a minha armadura de alguém inabalável, forte, com presença que resolve qualquer problema. Essa dureza de ser esconde brevemente o meu outro lado mais leve e mais próximo, aprisiona esta outra parte de mim que é mais da brincadeira do riso, da piada, do brincar.
Não me abrir aos outros constantemente, esconde nessa abertura a alegria e o sorriso. Fico mais tempo sério do que rindo, e isso é uma boa métrica, não que eu precise passar todos os dias em estado de graça, mas no contato com o outro, sorrir faz bem, sorrir aproxima.
Tive a oportunidade ao longo do dia de perceber outras fortalezas, o silêncio mesmo que breve em uma parte do dia me moveu para outro lugar, para outra observação, para outra perspectiva. Tive a oportunidade de estar mais presente e aberto ao longo do dia, sensível ao caminhar dos outros, atento a possíveis brincadeiras, de prontidão para qualquer acidente, generoso nos abraços e palavras de carinho, cuidadoso no olhar, no perceber, brincalhão nas piadas, e divertido ao longo de uma fogueira, leve e contendo minha dureza.
Foi como se a fortaleza estivesse de portas abertas pra visitação, e eu por algum motivo me deixei sair, me libertei. Passei o dia leve, sonolento em alguns momentos, mas protagonizando a mim mesmo por outros caminhos mais sensíveis.
Observo a pergunta e hoje me liberto a pensar que existem outras formas, sempre existiram, e que me fechar pode ser bom para cuidar isoladamente de mim, mas me manter fechado o tempo todo apaga a possibilidade de me divertir e me conectar com os demais.
Como a habilidade de utilizar os dois pés pode ser praticada?
Comments